Um retrato, muitas emoções

Memória Trêsporquatro, filme dirigido por Osani, é um filme de arquivo que nos traz sentimentos profundos sem muito esforço. 

Nesse curta dirigido por Osani, nós acompanhamos os relatos de diversos entrevistados, diante de tal pergunta: O que você sente ao olhar para esse retrato?  O retrato, é a foto no formato 3×4 em preto e branco de uma criança, com feição neutra e cabelos escuros.

A cada resposta vemos diversas interpretações e especulações sobre a garota da foto: Uns dizem ver uma criança desconfortável de estar ali, outros dizem ver uma criança feliz.  E nós, ouvindo as respostas e vendo a foto, acabamos inevitavelmente sentindo junto os sentimentos, e achismos dos relatos gravados.  Quando falam ver uma criança feliz, eu vejo uma criança feliz, e quando disseram ver uma criança desconfortável, eu enxerguei isso também.

É como o efeito Kuleshov, mas aqui são os diálogos que nos fazem enxergar o retrato de diferentes maneiras. Na busca da verdade sobre o passado da foto, chegamos então à resposta da própria criança, que hoje em dia é idosa. Contudo nem ela própria lembra ao certo de tudo, ela não se recorda corretamente quando foi tirada, por quem ou qual câmera foi utilizada, apenas que sua idade era entre 7 e 8 anos. 

Conforme o filme vai passando, nós também ficamos pensando sobre a garota da foto, concordando com os entrevistados ou discordando, como quando a terceira pessoa diz: “...Como se ela não se sentisse a vontade de tirar a foto...”; logo em seguida, a outra moça fala: “Não, ela aparenta tá feliz né...”. Eu particularmente vejo apenas uma criança tímida tirando uma foto.

  E a gravação está sempre mudando também, o retrato da criança está sempre sobre a tela, mas o fundo vai mudando, as texturas sempre diferentes e ambientes distintos. Vemos em paredes de diferentes cores, sobre o tronco de uma árvore, o chão e até mesmo sobre o rosto de um cavalo.

Esse curta simples, utilizando apenas relatos e uma imagem, nos faz refletir sobre o passado, o que é a verdade, o presente e a percepção de podermos ter sobre alguém diante de apenas uma imagem, onde nossas recordações ditam o que sentimos sobre ela, ou não.