Néctar do Tempo: a sabedoria da apicultura forma de registro
- Gael Queiroz

- 6 de nov.
- 2 min de leitura
“A colmeia se torna, assim, um lugar onde o humano e o não-humano se entrelaçam, criando um tempo e um ritmo próprios”
Com está citação do antropólogo e escritor estadunidense que inicio a minha análise do curta Baiano Néctar do Tempo de Pedro Rodrigues. O curta se propõe como um projeto de registro documentário que transcende a mera observação para mergulhar na profunda sabedoria de um único personagem: o Sr. Paraíba, um apicultor cuja prática é marcada pela simplicidade, pela tradição e pelo respeito ao método mais originário do ofício.
O curta nos apresenta ao seu protagonista a partir de uma perspectiva cotidiana, não apenas através de sua função, mas primordialmente pela sua narração envolvente. Esta Voice over e entrevista ao mesmo tempo, funciona como um fio condutor, não só explicando os processos da apicultura, mas também revelando a sua carreira e vida desta função. É a sabedoria acumulada em anos de trabalho no campo que guia o espectador, transformando o ofício em um tratado sobre paciência, respeito pela natureza e a arte do tempo.
A excelência de Néctar do Tempo reside, de forma notável, na sua direção de fotografia e nos seus planos e takes contemplativos. A câmera de Pedro Rodrigues não é intrusiva; é uma testemunha silenciosa e reverente. Há um foco meticuloso nos detalhes: o suave zumbido das abelhas, a textura da cera, o movimento lento e deliberado das mãos do Sr. Paraíba ao manejar os favos. Esta atenção ao pormenor transforma o trabalho manual em um balé.
A montagem é de uma eficácia ímpar. Ela estabelece um ritmo próprio, que mimetiza o fluxo calmo e constante do trabalho do protagonista. O diretor consegue, através dessa cadência, fazer com que a função do Sr. A Paraíba seja assimilada pelo espectador não como um trabalho árduo e distante, mas como uma rotina familiar e profundamente humana. Somos progressivamente acostumados ao universo da apicultura, em um processo de imersão que dissolve a distância entre o observador e o observado.
Néctar do Tempo é um curta-metragem de uma direção impecável e fantástica, que opta por uma abordagem que é simultaneamente documental e poética. Longe de ser apenas um registro etnográfico, ele se estabelece como uma meditação visual e sonora sobre o tempo e o trabalho. O filme mostra o dia a dia de um trabalhador, mas o faz da forma mais artística e poética possível, transformando a colheita do mel em uma metáfora para a vida e a coexistência.



Comentários