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DESVER

FESTIVAL DE CINEMA 

UNIVERSITÁRIO

DE MATO GROSSO DO SUL

Noé Luiz Mota: Um Homem Apaixonado pelas Artes

  • Foto do escritor: Alécio Luís França
    Alécio Luís França
  • 6 de nov.
  • 2 min de leitura

Imagine um museu de arte. Conseguiu visualizar? Provavelmente tenha pensado em um prédio imponente — belo e luxuoso; no teto: pinturas, estuques, frisos, afrescos, lustres de prata; nas paredes: estátuas, quadros, mosaicos, colunas, molduras douradas. Dificilmente imaginou algo semelhante a uma colmeia de cupins, terrosa e rústica; peculiar e charmosa — e nem precisa, alguém já o concebeu. É sobre esta figura singular e sua obra que se estrutura este curta-metragem.

Noé Luiz Mota é um sonhador nato: goiano; apaixonado pelas artes; dono de uma personalidade excêntrica; dedicou sua vida a construir — e manter — seu “santuário artístico”. Assim nasceu, à sua imagem e semelhança, a Catedral das Artes, um lugar onde pintura, escultura e cinema se misturam. Sua obra é um espelho de si mesmo — grandiosa, artesanal e movida por uma fé inabalável na beleza da criação. Uma tarefa nobre, que preserva a arte, divulga cultura e dá voz a pequenos realizadores.

Em sua determinação, Mota se torna o retrato do artista que não apenas sonha, mas materializa o sonho com suas próprias mãos. Seu discurso, no filme, ganha corpo através da matéria que o cerca — paredes, esculturas e traços que transformam pensamento em presença. A câmera, ao registrar sua criação, revela a coerência entre o que ele diz e o que constrói: ideias que abandonam o plano abstrato e se tornam palpáveis. Com sua ação, chama o espectador a sonhar; a ter unidade; a exercer seus anseios sem medo de errar.

Diante de uma figura tão singular, de um cenário tão rico e de histórias potentes, seria natural esperar um filme tão inspirado quanto. Contudo, no que diz respeito à direção, o filme carece de força estética e identidade marcante. Seja por falta de ousadia, seja por conformismo, há no filme escassas marcas de autoralidade. O paralelo entre a construção da uma colmeia de cupins e a edificação da Catedral das Artes é, sem dúvida, uma ideia inspirada; porém, sua repetição excessiva durante o filme acaba diluindo um pouco seu impacto original. Fora isso, as cenas que talvez mais saltem aos olhos sejam as do cineclube, onde há um contraste marcante entre a silhueta de Noé e a tela de projeção. Fora isso, sua forma é usual.

Não se trata de um mau documentário — de longe este é o caso. A inspiradora trajetória de Noé Luiz Mota é registrada com decência e método: há fotos, documentos, dados e encenações — respeitando, de fato, às convenções do gênero. O filme, no entanto, se satisfaz em apenas cumprir tais formalidades. Se contentando em ser correto, perde a chance de ser memorável. Se isso basta, ótimo; se não, lhe falta uma condução do olhar mais vigorosa — um sopro de invenção, um brio criativo que transforma uma boa história em uma experiência mais que marcante.


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