Enfrentando seus desejos e medos, Marcos, Maria e Monalisa lidam com a padronização da sociedade no modo de se portar e de ser. Através da memória e fantasia, somos convidados a investigar o interpessoal das personagens e os reflexos que interligam essa história. Cada um deles, com suas particularidades e complexidades, nos levam a refletir sobre a busca incessante por identidade e aceitação em um mundo que frequentemente impõe normas rígidas e expectativas inalcançáveis.
Dirigido por Tainá Lima, o curta "Monalisa" proporciona ao espectador uma experiência de autodescobrimento em contrapartida dos padrões sociais, evidenciados na rotina de Monalisa, que é zombada por usar um tampão em seu olho. A garota divide a casa com Marcos, uma figura bem presente em sua vida, compartilhando diversos momentos divertidos, que incentivam sua singularidade em meio à repressão de suas colegas de sala. A relação entre Monalisa e Marcos é construída de maneira delicada e profunda, mostrando como o apoio mútuo pode ser um alicerce fundamental para enfrentar as adversidades impostas pela sociedade.
O personagem de Marcos nos é apresentado como alguém infeliz com sua vida, que dedica seu tempo e energia para o crescimento de Monalisa, e parece não se sentir pronto para uma vivência por si só. Isso se evidencia em seus sentimentos de angústia e arrependimento pelo passado, além do medo do futuro. Assim, Marcos anseia por escapar de si mesmo e tem Monalisa como seu único conforto. A dualidade de seus sentimentos é explorada com profundidade, revelando um personagem complexo que luta contra seus próprios demônios internos enquanto tenta ser um pilar de apoio para Monalisa.
No que diz respeito às relação entre as personagens, Maria traz equilíbrio para o trio, com conselhos e uma presença que acolhe os demais como uma mãe. Maria é uma figura quase mítica, cuja sabedoria e serenidade contrastam com a turbulência emocional de Marcos e Monalisa.
Nesse sentido, o roteiro, também de Tainá, aborda o autoconhecimento de uma maneira subjetiva e sutil, conseguindo unir a fantasia e a memória, deixando um ar de nostalgia da infância e o transtorno da maturidade. Os planos recortam os personagens dentro de sua própria prisão, os moldes sociais e a ansiedade de crescer. A narrativa é construída de forma a permitir que o espectador se conecte emocionalmente com as personagens, sentindo suas dores, medos e esperanças.
A fotografia da obra se apresenta com planos fechados, mas suas cores são sempre muito vivas, sugerindo um conforto dentro do particular dos personagens. O exterior é opressor enquanto o interior, confortante. A escolha das cores e dos enquadramentos não é acidental; cada detalhe visual contribui para a construção de um ambiente que reflete o estado emocional das personagens. "Monalisa" é um retrato daqueles que não se conhecem; não sabem para onde vão; buscam se conhecer e buscam se livrar do molde social.
Ao assistir o curta, me senti instigado a fazer uma investigação íntima sobre mim mesmo, "quem eu quero ser quando crescer?-""como vou ser quando crescer?-" e "o que vou ser quando crescer?-" foram perguntas exploradas pelo filme e que vieram à minha cabeça. Os espelhos, presentes em certas cenas, foram os principais precursores dessa investigação, principalmente na cena final onde todos os 3 apontam para os reflexos. Ao mesmo tempo que me intrigou, também fui acolhido pelas cores e a ambientação do apartamento dos personagens. Intrigado pelos recortes e acolhido pela nostalgia que senti, implicada pela fotografia e pela escolha e organização de locação, que me fizeram me sentir em um lugar aconchegante. "Monalisa" acolhe as incertezas do futuro e da vida, afinal, o que é a vida senão o princípio da morte? A obra nos convida a refletir sobre a fragilidade da existência humana e a beleza que pode ser encontrada na busca por autenticidade e conexão genuína.
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