Após a perda do cunhado, Jackson se vê assombrado pelo falecimento de Alex, pelo qual sempre teve muito carinho e proximidade. Encurralado pela nostalgia do familiar e a rotina corriqueira de entregador de aplicativo, o rapaz não consegue parar de pensar no fato do amigo ter partido sem a corrente que não tirava do pescoço. Após um dia difícil, cheio de contratempos, o entregador vai em busca da tal corrente e a encontra em meio às folhas na mata.
André Zamith e Vinícius Cerqueira abordam o luto com uma direção melancólica e conseguem transpassar para o espectador, a falta que o personagem de Alex traz para o protagonista com uma melancolia que emerge da conjugação de tons frios ao vasto cenário da cidade grande. Também emerge da contraposição das cenas mais frias com os flashbacks dos dois personagens, em cenas que predominam os tons quentes e alegres e os planos mais fechados, que enfatizam a intimidade entre os amigos. Junto a isso, a trilha sonora nos insere em uma atmosfera ’vazia’ e conturbada ao mesmo tempo. Em paralelo às adversidades que o entregador encara, o vazio que Alex deixou em seu cunhado permanece ali, perturbando-o. Enquanto isso, as memórias o confortam em meio ao caos.
O roteiro de Maylon Romes coloca o protagonista em situações em que é possível entender a dor do personagem. Ele não perdeu somente o amigo, mas também a confiança, a tranquilidade e os conselhos que Alex trazia para a sua vida. Mas em meio a isso tudo, o que mais o incomoda é o fato da correntinha de Alex não ter sido encontrada junto ao corpo. Com isso, após esse longo dia problemático, o protagonista decide ir atrás da corrente para sanar essa questão.
Em um recorte do passado, nos é apresentado o motivo de seu cunhado sempre estar tão tranquilo e despreocupado com o futuro. No trecho, o personagem de Alex mostra um crucifixo em uma corrente para Jackson, o colocando na mão do amigo e fechando seus dedos sobre o pingente. Assim, é possível a interpretação de que a ’despreocupação’ de Alex era por conta de sua fé e confiança em algo maior. Em contrapartida, Jackson parece se ‘agarrar’ nessa fé e se inspirar no cunhado. A perda de Alex foi tão dolorosa que o personagem de Jackson ficou sem fé e confiança, quase sem propósito, além de sem respostas sobre o sumiço da corrente.
Ao encontrar a corrente, é como se o passado e o presente do protagonista se encontrassem naquele momento, preenchendo todas as lacunas vazias que Alex deixou. A partir dali, o entregador poderia retomar a sua vida, sem precisar ser assombrado pela passagem do cunhado. Com sutileza, o curta consegue infligir a dor da perda; propagar o vazio que uma pessoa pode deixar e a saudade que uma vida causa na outra.
Eu, particularmente, me senti bem tocado pela jornada do protagonista, mesmo não tendo experienciado o luto, consegui me sensibilizar com Jackson em relação à sua melancolia enfrentando a morte do familiar. Ver o personagem lidando com os diversos imprevistos no trabalho enquanto se questiona sobre a corrente do cunhado e relembra seus momentos com ele; contrastando passado alegre, com tons amarelos, quentes e reconfortantes, com o presente frio, com um abismo cinza com tons azulados que seu amigo deixou.
A importância da figura de Alex na vida de seu cunhado me fez refletir sobre a influência que geramos ao nosso redor e visualizar a situação do filme em minha vida pessoal como irmão mais velho de um garoto. Isso me fez pensar sobre o que deixarei para meu irmão quando eu partir e o que vai me restar dele quando for sua vez. Como disse antes, ainda não experienciei o luto, mas ‘’O que Fica de Quem Vai’’ me inseriu no limbo que uma vida deixa na outra. O que fica são os ensinamentos, os conselhos, a saudade e a dor, o que vai é o passado, a nostalgia e o vazio.
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